Desde que decide mudar minha trajetória profissional de executiva de agência de comunicação tenho refletido sobre transição. Fui entendendo que havia um processo entre a decisão e o que viria depois, independente do que fosse, e que, no geral, não temos muito repertório para lidar com essa fase. E pode ser que nem seja uma questão de falta desse repertório, e sim, o fato de que não enxergamos que estamos vivendo no meio desse processo. O que está em nosso radar é apenas a decisão tomada e o lugar onde chegaremos. É como se a travessia que envolve o período da decisão até o ponto determinado a ser alcançado não fosse levada em conta.
Fui investigando e passei a olhar esse movimento todo como uma espiral, que parece que se repete, mas, não. É uma jornada e você não está mais no mesmo lugar a cada elo que se forma.
Enquanto navegava, não sem me afogar por alguns instantes, em um desses elos, fui impactada por diferentes canais noticiando o conteúdo da futurista Amy Webb, durante o SXSW 2024 (festival de inovação nos EUA), que apresentou a expressão Geração T, fazendo alusão aos conceitos anteriores sobre geração identificados por letras, porém, agora, com um componente adicional.
A geração T está relacionada ao momento de elevada transição tecnológica que vivemos. Segundo Amy, cada um de nós integra essa geração que estaria em transição e que será muito diferente quando esse processo de mudança estiver completo.
Não sabemos quando esta transição estará finalizada, mas, o ponto é que quando isso ocorrer estaremos adentrando a um novo processo de transição.
Neste processo de reflexão, me ocorreu que estamos o tempo todo em transição. Talvez, geração T seja quem de fato somos, desde sempre.
É comum pensarmos a transição como grandes acontecimentos, marcos vistos como um divisor de águas, desde este cenário de transformação trazido por Amy, até outros já mais vivenciados em nosso dia a dia como transição de carreira, ou mudança de status de relacionamento, ou de endereço, por exemplo. Porém, quando penso que tudo muda o tempo todo e que a única certeza que temos na vida é a mudança, vejo que estamos continuamente em transição.
Essa reflexão seguia quente por aqui, até que dia desses, enquanto voltava aos meus estudos sobre o budismo, encontrei algumas preciosidades que se conectaram com a transição.
Estou estudando e aprendendo sobre o conceito de bardo, termo geralmente associado ao estado intermediário entre vidas, mas, uma tradução mais abrangente seria simplesmente “transição” ou “intervalo”. Eles utilizam a respiração e seu ciclo de inspirar e respirar para ilustrar o que seria essa experiência de bardo, que remete ao fato de que todo fim é o início de outra coisa e que podemos nos exercitar para ver o fim como o começo e assim continuamente. O bardo, portanto, é o momento de transição.
E para esses momentos, que ao que me parece estão presentes a todo instante, o budismo sugere exercitarmos uma nova abertura capaz de nos auxiliar a navegá-los. Que tentemos nos abrir àquilo que não faz sentido para nós, aos aspectos que nos são menos familiares, àquilo que não entendemos ou não concordamos, àquilo que nos dá medo. E então, experimentar trocar o medo por curiosidade e a frustração pela transformação. Tem me feito bem praticar tal ensinamento, ainda que eu não seja capaz de fazê-lo de forma rotineira, e não o faça sem dor ou desconforto, mas, recomendo!